terça-feira, 10 de agosto de 2010

O ESPETÁCULO DON JUAN NO ESPELHO


O espetáculo propõe reflexões sobre temas como a solidão e o amor no mundo moderno, a partir do mito de um dos personagens mais instigantes e polêmicos da psicanálise e literatura mundial.


Don Juan. Personagem que vive no imaginário de todas as pessoas. Mito, modelo, mistério, perversão. Estes são alguns rótulos para o personagem que há séculos vem fazendo parte da história do homem, nas mais diversas áreas. Existiu como lenda, em meados do século XVIII, foi transformado em texto teatral, por Tirso de Molina, Zorrila Molière entre outros autores ao longo dos séculos, eternizado em ópera como o famoso “Don Giovanni”, de Mozart. Teve sua personalidade esmiuçada pela psicanálise, devido ao seu alto grau de complexidade comportamental e entrou para o imaginário popular como o grande sedutor da história. “O desafio do espetáculo Don Juan no espelho é exatamente aproximar-se do imaginário coletivo sobre o Mito e abrir caminhos que possibilitem novas visões e que clarifiquem o entendimento do Homem Moderno. Usar a referência do universal para questionar o Homem em sua intimidade”, explica Márcio Miranda.


O espetáculo aborda vários temas ligados à psicologia, como relação parental, esquizofrenia, solidão, desejo e culpa, através da aproximação da lendária figura do sedutor Don Juan com o homem contemporâneo.


É proposto em cena o encontro inusitado entre dois personagens tão diferentes em postura de vida e, ao mesmo tempo, tão iguais em essência, que se aproximam por uma busca pelo equilíbrio: um deles é Don Juan, mito vivo no imaginário popular, imagem simbólica da sedução e referência direta ao “carpe diem”, que renuncia a qualquer compromisso em troca do prazer momentâneo. O outro, Victor, um escritor preso a um passado produtivo, de muito trabalho e responsabilidades, que abdicou-se da vida, em função de uma culpa. Quando Don Juan “sai do papel”, provoca uma aproximação entre o autor e a sua obra e incita questionamentos dos próprios personagens sobre a forma como conduziram suas vidas, numa atmosfera que transita entre realidade e ficção.


O ponto de partida para a construção de “Don Juan no espelho” foi o texto homônimo de Márcio Miranda, escrito especialmente para o espetáculo e premiado em 2º Lugar no concurso “Grande Prêmio Minas de Dramaturgia”, patrocinado pela Usiminas. Temáticas como a solidão do homem moderno, o amor e a sedução versus o amor romântico, muito debatidas hoje pela psicanálise e literatura, permeiam “Don Juan no Espelho”. O espetáculo traça um paralelo entre os princípios e questionamentos apontados pelo Homem Contemporâneo e os que giram em torno da imagem do sedutor espanhol, colocando em discussão a questão da valorização do presente como tempo real.


As visões acerca da lenda variam de acordo com as opiniões sobre o caráter de Don Juan, apresentado dentro de duas perspectivas básicas: para uns, era um mulherengo barato, concupiscente, cruel sedutor que buscava apenas a conquista e o sexo. Outros, porém, defendem que ele efetivamente amava as mulheres que conquistava, e que era verdadeiramente capaz de encontrar a beleza interior da mulher.


A direção do espetáculo é de Luiz Otávio Carvalho e Alexandre Toledo.


Em cena, temos o próprio autor, Marcio Miranda, no papel de Don Juan; Leri Faria que interpreta Victor, o escritor; Ana Luiza Amparado, no papel de Clara, esposa de Victor; Isaque Ribeiro, como o duplo de Don Juan; Paula Albuquerque, como a sedutora Carmem e Flávia Fernandes, como Ana, uma nobre em conflito entre o prazer e o pecado.



COMENTÁRIOS...

Pessoal,

segue o comentário do psicólogo Eduardo L C Moreira sobre a postagem.

 
Eduardo L C Moreira disse...

Realmente o poema retrata a vida de Don Juan. Uma vida que vai além do prazer, ou seja, está na via do gozo. Um gozo que invade o corpo, e que não se localiza na linguagem apenas, pois linguagem aqui é pouca ou "não-sabida que se sabe". A recusa é de um nó que norteia, da castração (aquilo que barra o sujeito entre o "sim" e o "não"). Recusa que faz parte da estrutura perversa, é nela que habita a sedução nua e crua. Atrelada a este jogo que mais revela do que vela, a admiração e o espanto (horror) andam juntos, como o ódio e o amor na rotina dos enamorados. A sedução é audaciosa. O outro pode se encantar ou repudiar ao vê-la e percebê-la. Fica a escolha do freguês! O interessante é admirar a sedução com moderação, nunca negá-la por completo. A não ser que ocorra sublimação, aí já é outro "porém". Reprimir nossos desejos sexuais, libido, é negar a vida. É viver deixando de lado a experiência da completude-incompleta que nomeia o prazer, a nossa existência. Entre o choque da pura culpa e do puro gozo, o duplo de Don Juan acha o caminho do meio e tenta assim ser feliz. Fica a dica para quem quiser também tentar!!!